■ Matéria escrita pelo Arquiteto Eduardo Faust para a
Revista Paróquias & Casas Religiosas
Edição 46 – Janeiro | Fevereiro 2014.
No século XIX, durante
a revolução industrial na Europa, o projeto arquitetônico foi fator decisivo
para uma transformação nas vidas dos operários, estes viviam em espaços
insalubres com poucas áreas de lazer e espaços de convívio. Tal planejamento
não muda a realidade socioeconômica de cada bairro/indivíduo, mas nos dá
condições em elevar a qualidade de vida destes.
No caso das paróquias as áreas extra templo, ou extra missa necessitam de uma
readequação em sua organização espacial.
O estudo do Cristianismo, a prática Cristã, dependem destes espaços para
que esta Igreja viva se manifeste.
Imagine uma
praça, aonde um grupo, após sair de uma aula sobre bíblia encontra-se ensaiando
musicas litúrgicas, sentados ao redor do monumento de Nossa Senhora do Rosário.
Estes são abordados por outros, que passam em direção à biblioteca, pois acabam
de retornar de um filme sobre a história de São Francisco de Assis e querem
saber mais sobre. Os dois grupos aguardam para falar com membros da ação social,
pois querem fazer parte da organização de um evento beneficente no salão
comunitário.
Tal cena que
ilustra uma comunidade viva, num ambiente agradavelmente evangelizador, só
seria possível com um espaço que integre: Salão de Festas; centro de
evangelização; cinema; biblioteca; praça; monumentos; espaço do ministério da
musica e sede da associação social.
Ao contrário de
um shopping que cria a estrutura para gerar demanda, as nossas comunidades já
possuem tal demanda que clamam direta e indiretamente pela infraestrutura. Muitas
vezes por falta de alguém que plante esta semente opta-se pelo típico salão de
festas, esquecendo-se da gama de usos disponíveis.
Quermesses e
festas comunitárias são exemplos da tradição da Igreja como fomentadora da
união dos leigos através do entretenimento, que vem se tornando cada vez mais
diversificado e a Igreja deve fazer uso de tal pluralidade de meios.
Analisando
exemplos bem sucedidos de igrejas no Brasil e no mundo veremos uma lista de
“serviços” que estas construções e espaços anexos podem nos oferecer:
·
Sala de
projeção [cinema] | Apresentação de filmes catequéticos ou que contenham uma
mensagem Cristã. Dimensionado para o uso local da comunidade, este espaço
geralmente será pequeno, lembrando mais um home theater do que um cinema.
·
Biblioteca,
livraria e sala multimídia | Por grande parte do conhecimento hoje estar nas
redes de computadores, o espaço da biblioteca não pode mais se comportar como
um depósito organizado de livros, e sim um local de fomento de ideias e
agradável leitura. Uma livraria ajuda a movimentar o rico mercado editorial
Católico.
·
Salas
de aula, sala de reuniões/conferência, sala de leitura | Espaços já presentes
na grande maioria das comunidades.
·
Auditório/teatro
| Conferências e eventos em geral externos e internos podem ser oferecidos pela
comunidade, trazendo conhecimento de outras partes. Se anexarmos: camarins,
foyer, coxia, expandiremos o uso do auditório para também de um teatro, aonde
encenações de passagens bíblicas, apresentações musicais, entre outros,
encontrarão espaço apropriado.
·
Centro de ação social | Basicamente salas administrativas dimensionadas conforme a
atuação.
·
Salão de Eventos | Estrutura com: hall; bilheteria; palco;
cozinha industrial; bar e depósitos. Deve ser calculado isolamento/tratamento
acústico, sua legalização passa por rigorosas normas da vigilância sanitária.
·
Praça catequética
| Todos os espaços citados anteriormente funcionam melhor se planejados
integrados a uma área verde e aberta. Esta permeabilidade espacial é vista nos
claustros dos mosteiros.
·
Quiosque
| A cultura dos Cafés e das Praças de Alimentação como pontos de encontro está
cada vez mais solidificada. Um comercio desta natureza numa Igreja torna-se
raro, pois, suas vendas têm de comportar sua estrutura e geralmente o número de
usuários é insuficiente.
·
Estacionamento
| A legislação das cidades varia quanto ao método de contagem, importante é
saber que cada espaço criado soma mais vagas.
·
Banheiros
e lavabos | Poucos dos ambientes citados necessitam de grandes sanitários
públicos, apenas lavabos bastam. Importante é saber locá-los de forma
inteligente, pois será raro o uso de todos espaços simultaneamente.
·
Casa paroquial | É a única obra presente nos
terrenos das Igrejas que é de uso privado, logo não necessita encontrar-se ali.
São recorrentes as queixas de sacerdotes que moram ao lado do salão de festas,
sendo este alugado para terceiros com frequência. Muitas casas paroquiais são
transformadas em centros de evangelização e etc.
Os espaços que
tratamos são na maioria das vezes edificados no mesmo terreno da Igreja sob 3
tipologias:
Isoladas no terreno | Possui um ou vários edifícios próprios
para abrigar tais usos. É a alternativa ideal, pois é possível fazer com que
áreas verdes de convívio contornem as edificações. O edifício igreja terá
destaque pela liberdade volumétrica. Cada edifício é executado e finalizado
independentemente sendo mais fácil de planejar as obras. Porém tal conformação
necessita de terrenos realmente grandes, cada vez mais difíceis em grandes
centros.
Anexo a Igreja | Numa mesma construção é criada toda
estrutura, otimizando o espaço no terreno, porém esta área anexa não deve
“roubar” área que poderia ser utilizada pela assembleia da Igreja. O edifício
Igreja fica “encaixado” em outra obra, geralmente de dois andares, isto deve
ser pensado pelo arquiteto para que não prejudique sua estética e
acessibilidade.
Prédio | Quando o lote não comporta os usos, a verticalização é a alternativa
mais apropriada. É indicado que a Igreja esteja sempre no topo, aproveitando o
pé direito alto proporcionado por inclinações da cobertura. Este uso exige do
arquiteto criatividade e domínio de formas, para que a obra tenha “cara” de
Igreja e não de prédio. Rampas e/ou elevadores se farão necessários elevando o
custo da obra.
Este programa de
necessidades deve ser discutido pela comunidade/clero conforme seus costumes e
espaço disponível. O arquiteto os formatará de forma a otimizar os espaços e
atender as legislações vigentes.
Eduardo Faust é Arquiteto pós-graduado em Espaço Litúrgico
possui mais de 50
Igrejas e centros pastorais em seu currículo.
contato@eduardofaust.com
Revista Paróquias & Casas Religiosas
Edição 46 – Janeiro | Fevereiro 2014
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